16 de jan. de 2014

Nymphomaniac: Volume 1

O público da sessão que peguei - eu inclusa - deu a impressão de que talvez não estejamos preparados para o sexo como protagonista de uma trama. A dose generosa de humor dada ao filme não geraria tanta gargalhada constrangida se esse não fosse encarado com certa hipocrisia de quem dá a entender que nunca viu ou ouviu falar sobre o assunto. 

Fui assistir Ninfomaníaca preparando meu estômago. Embora o marketing tenha caído todo para as tais cenas explícitas, estamos falando de Von Trier. Quem o conhece minimamente concluiu que não haveria oba oba no retrato de uma viciada em sexo. É comum ele querer "foder" com o destino das mulheres em seus filmes, e agora foi, digamos, literal. Portanto, baseada no que via, logo pensei no peso psicológico que o filme traria e aquela atmosfera poética-dark comum. Mas fui surpreendida.

Primeiro pelo fato de que, não sei se pela reação do público, essa primeira parte tem seus momentos, mas não é de todo pesada. Nem sexualmente falando e nem psicologicamente. A trama pendeu mais para o humor negro, mostrando o começo de todo o problema de Joe e dando a entender que até certo ponto as coisas foram minimamente divertidas diante de uma vida sem grandes perspectivas. 

O diálogo com o simpático Seligman, onde ela vai contando a saga que a levou para o beco em que ela é encontrada toda estrupiada, busca colocar um sentimentalismo por cima da culpa e as metáforas usadas para descrever o sexo são bem interessantes, principalmente a do 5º capítulo. 


Sobre as cenas explícitas, quem espera ver muitos closes picantes pode baixar a bola, o que não significa que o que é mostrado seja tão convencional. Acho que tudo foi exibido na medida exata, sem pudor mas sem exagero. Se é pra ficar constrangido com algo, talvez a cena protagonizada por - Uma Thurman - seja  a mais forte de todas. 

Em um dos capítulos, acontece o "plot" da trama. Ao passar por um evento triste e deixar claro que a busca pelo sexo é só um apaziguar de mágoas, a protagonista se excita com algo inimaginável. A partir daí,  sabe-se que a máscara usada para que ela aparente não atribuir peso aos seus atos, cai. 

É engraçado notar que como Seligman, é difícil julgar Joe como a pessoa terrível que ela diz ser. Dá a impressão de que todos também ofereceríamos chá  e compreensão a uma ninfomaníaca. O que óbvio, não é verdade, já que estas são julgadas pela grande maioria como simples "putas" ou "gostosas que podem vir para minha cama". 

O filme também tem sua parte romântica, destacada pela frase de B: "O ingrediente secreto do sexo é o amor". Quando Joe começa a contar sobre a descoberta do sentimento e o desenrolar de sua história, Seligman chega a ficar desconfiado da veracidade daquilo. E de fato, em meio a tanta "sujeira", temos uma cena maluca digna de comédias românticas. Contudo, como os cartazes já anunciavam, "forget about love". 

Propositalmente é claro, o ápice  foi deixado para o final. As últimas cenas são ótimas e funcionam quase como um resumo de tudo que acaba de ser visto durante as imperceptíveis 2h. E aí acaba. O grande "orgasmo" aguardado é abruptamente cortado. Faz-se cara de taxo até que aparece o teaser do Volume II. Este sim, parece vir agressivamente carregado de todo o pesar sutilmente visto neste primeiro. Talvez como em Shame. 

E que chegue logo, porque não há ouvido que aguente Rammstein no repeat. 

24 de set. de 2013

Segura meu braço

Quando ele faz cara de criança cansada, tira os óculos e desliga os monitores, já fico preparada porque a "hora do cochilo" se aproxima. Logo me empolgo porque amo cochilar e posso fazê-lo em qualquer momento do dia, mas hoje foi diferente. 

Deitou-se do meu lado e eu comecei a tagarelar e trolar pra ele não dormir e ir tomar banho antes que ficasse tarde, mas bastou um pouco de silêncio pra ele apagar. Apagou segurando meu braço, como quem diz "fica aí mesmo que não vá dormir também". E eu fiquei naquela posição desconfortável e agradável ao mesmo tempo, até que ele começou a roncar e ao invés de me incomodar com o barulho e sacudi-lo pra parar, eu achei a situação muito fofa e fiz fotos daquela face barbuda com o celular. Provas de amor do cotidiano. 

7 de ago. de 2013

Sir Psycho

Sabia que quando terminasse eu me arrependeria por não ter animado e arrastado o Daniel para vermos mais coisas. Eu sabia. Agora, ouço a trilha de Vertigo e choro pelo "corpo" derramado (essa foi zoada, eu sei).
Cinema do bom e totalmente free. A Mostra Hitchcock foi a melhor coisa que poderia ter acontecido nessas férias. Obrigada CCBB. Espero que este tenha sido o pontapé inicial para muitas outras.

Em pouco mais de um mês de evento, fomos em 5 dias. É, só isso.

Então vimos:

The Man Who Knew Too Much (1956)




Muito prazer, meu nome é James Stewart e eu sou tão carismático que me tornarei um de seus atores preferidos daqui em diante. Destaque pra cena do Albert Hall, claro. 12 minutos de tensão e nenhuma palavra.

Vertigo




Embora tenha sido um fracasso de bilheteria e o último trabalho de James com  Hitch, é incrível e ponto final. Um filme "dois em um" extremamente psicológico, onde na primeira parte rola um quebra cabeça x jogo de adivinhação e na segunda uma viagem romântica obsessiva. Clap clap clap.

Rope




Teatro no cinema. O vilão principal é tão convincente que chega a dar raiva/nojo de olhar pra cara dele. Seu companheiro de crime também dá aflição, tamanho é o desespero que o garoto transmite. Gostei do modo como foi feito e gostei da abordagem do tema "os fracos não tem vez". Só não foi melhor porque assistimos com double-legenda e a em português ficava muito abaixo da tela, onde cabeções a tapavam com frequência.

Rear Window




Mais atual que isso, impossível. Fissura pela vida alheia, especulações, deduções absurdas, julgamento, erotismo. A lista de coincidências com o que rola hoje em dia é extensa. Prato cheio pros stalkers. <3

North by Northwest




My name is Thornhill, Roger Thornhill. Cary Grant é tão simpático quanto Stewart, ao contrário de Eva Marie Saint, que não desce. Bem que o Daniel havia dito que esse foi o prenúncio da saga 007. Clássico!

Faltou ver Dial M e Marnie e rever Birds (Psycho já vimos muito), mas valeu demais. Ficou a prova de que quase tudo que assistimos hoje e muitas vezes consideramos genial, tem um dedo de Cocky.




Bjs, mortais.